Entrar em outro processo é sempre uma caixinha de surpresas, mas começar um processo com uma pessoa alheia ao nosso cotidiano é nos colocar de frente a um universo de possibilidades antes nunca tocado.
Graça. Divina, alegre.
Um corpo sorridente, cheio de memórias de uma vida de sertão, cantigas de roda, procissão. Mãos que fazem castanholas titirintar no espaço dançado com firmeza e prontidão. Um corpo apaixonado pelo Coco e não gosta do Torém – não gosta porque nessa dança não se pinota. Lagarta pintada quem foi que te pintou? Quando só, se perde num mundo desconhecido, menina-mulher que não se conduz só ou ainda não aprendeu. Autonomia, mulher, vai e trace seu dançar, pule, cante,conduza seu espaço e encontre vazios que poderão ser chaves para um trabalho investigativo, voe se possível. Entre suas graças, surge um altar recriado por suas coisinhas, um chale, uma rosa amarela, brincos, suas castanholas, leque e um pavão maquiado.
Mas Graça ganhou autonomia, aprendeu a voar, virou planta, tateou a parede e foi.
Gracinha virou uma mocinha, anda com suas próprias pernas. Entre requebrados e vestígios de um misto de danças populares ela se move pelo espaço. Está tudo ali, gravado em seu corpo-brincante, seu corpo-dançador, seu corpo-graça. De cantigas e riso fácil vai se construindo um caminho.
Sâmia
Sempre quando vejo Gracinha, lembro de um pedaço de mim. é como se ela me trouxesse de onde nunca saí.
ter aulas com ela em 2009 foi um processo onde encontrei a parte que não queria negar. Meus primeiros passos de dança foram dentro de um grupo parafolclórico e dentro da sala de aula vi que meu corpo conversava com a liberdade que o corpo da graça professora, ela nunca nos trouxe verdades absolutas, era uma brincante, era sempre aquela com o apito na mão.
vejo minhas paixões nos olhos dela e percebo as coincidências, também nunca gostei de torém, dançar côco ou brincar de reisado, sempre foram as melhores partes, não é à toa que essas danças são chamadas de brinquedos. Brincadeiras levadas à sério. desconfio que deveríamos ser mais assim, lá existe dança mesmo quando existe a seca. são reis, rainhas, principes e princesas, pessoas cheias de graça como essa gracinha aí!
tem uma frase que gosto muito, ‘o santo da terra tem calo na mão’ eu adoro e digo amém!
Aspásia.